sábado, 31 de agosto de 2013

Sombra


Fernando Pessoa, Parque dos Poetas, Oeiras



Sombra

Como um novelo enrolado para dentro,
É assim que te definem.
Não sentes o sangue que vivifica,
O amor que te persegue...
Os sorrisos que outrora lançaste
Transformaram-se em pó...
As pessoas que te rodeavam eram ficção...
Todavia agarraste-te a elas...
Partilhaste com elas os teus pensamentos, os sonhos, as tristezas...
Mais... deste-lhes a tua Vida!
Viveram por ti e em vez de ti!
Deste-lhes nome, profissão, idade ...
Não passaram de criações literárias...
Esperavas que vivendo elas, fosses feliz?
Talvez... com Ophélia...
Mas elas não deixaram...
Como é que com a força da mente,
Não fizeste como o Marinheiro?!
Perdeste-te de ti!
E ainda dizes:« Só me encontro quando de mim fujo?»


 La Salete Ferreira
12/04/2000

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Marcas da Vida



Todos os dias a Vida nos marca
por qualquer motivo...
Hoje faz-nos chorar...
Lágrimas que não se veem...
Correm diretamente do coração.
Não se chora por fora...
Magoa-se por dentro.
É bem dentro que a ferida se abre.
Ficamos sem um pedaço.
Perde-se num dia tantos sorrisos!
E é este pedaço que é tudo...
Que nos ultrapassa...
Como espinha silenciosa do fluir inexorável do Tempo!
Perder e deixar passar quem amamos!


La Salete Ferreira
15/04/2002

Poesia...





Poesia

A poesia não chora!
Brota sorrisos por entre as letras!
Sentidas ou fingidas,
são elas que dão corpo ao amor,
ao ódio, à esperança, à vida e ao sentimento!
São as palavras entrelaçadas
num fio envolvente que nos levam
ao peso do Invisível.
Se são mágoa, orvalho em forma de letra, punhal contundente,
são elas que nos conduzem...
Sobrevivem porque juntas dão razão a uma lágrima
que destrói a folha branca...
São a paixão de um livro fechado ansioso por se abrir...
Inertes nessa torre esperam crescer como fetos...
Rumo ao nosso Sonho...


La Salete Ferreira

21/03/2001

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Silêncio no Sonho



Como será possível a vida
tornar-se num silêncio absoluto,
após tanto barulho?
Como poderemos ultrapassar o tédio,
ouvir a chuva, olhar o céu cavado,
sentir o vento entrar na nossa alma?
É um silêncio duro, fatigável ...
uma espécie de terramoto que abala o corpo e
a mente mas...deixa tudo inerte, silencioso.
Como será a vida após este silêncio que perfura a carne
e a dilacera, a decompõe desenfreadamente?
Apesar da vida concretizada, continuaremos,silenciosamente, pendurados no sonho?


La Salete Ferreira
29/07/2001

Folha de outono






A face escura do presente
impede-nos de olhar brilhantemente o futuro.
Se a tua face resplandecesse ao menos na água do rio que me vejo...
na água do mar que me banho...
Se o entardecer do dia de hoje trouxesse,
pelo menos, o aroma daqueles dias de primavera...
Se ao menos pudesse associar os raios de sol ao brilho do teu olhar...
Nesta tarde, não teria a sensação de te ver flutuar
como uma folha,
ao ritmo e som do velho outono.


La Salete Ferreira
10/10/2003

Rosa Vermelha




Rosa Vermelha




Como descrever o desabrochar de uma rosa vermelha?
É quase fustigável dizê-lo...
Intriga-me o facto de outrora
Olhar a jarra e a ver vigorosa:
com uma cor vermelha viva, com as folhas verdes...
As folhas agora castanhas caem
sobre a mágoa do abandono, sobre a ferida aberta em sangue vivo.
Brotam dela gotas infindáveis que coagulando
formam um mar vermelho...
Neste mar naufraga a alma, erra o espírito...
Procura-se em vão pisar a terra...
Rema-se até encontrar, novamente, o sentido!...


La Salete Ferreira
03/01/2002

Lá ...longe!



Praia da Rocha 2013


Só porque brilhas no escuro...
É que a minha alma te encontra.
O teu rosto marca a minha vida,
ainda que o teu sorriso
mal se veja lá, longe...
Sinto-te como se fizesses parte de mim...
E estás lá...longe!
Tão perto de mim o teu cheiro...
Tão perto de mim o teu olhar...
Gosto de te ver ...
Ainda que lá ... longe!
Abraço-te no sonho
e vives em mim.
Sempre!
Lá ... longe!


La Salete Ferreira
31/10/2010


Pedaços de Vida






Praia da Rocha 2013
 
Pedaços de Vida como este
Fazem esquecer sibos de tristeza
que atravessaram, um dia, espinhosamente o nosso rosto...
Mas é neste momento que quero ficar e permanecer!
Sempre que aquele sibo me assombrar...
Lembrar-me-ei saudosamente deste:
a alegria de hoje é abundante como a água no mar!
Por isso, transborda e emerge em mim,
em forma de verso não rimado mas entranhado!
Como rocha sólida que firmemente ousa romper no mar...
É deste pedaço alegre que quero partir...
É deste pedaço que quero solidificar!

Poema escrito em 04/07/2008